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Ago 08
PARA A HISTÓRIA DO VELHO TEATRO GARRETT MEMÓRIAS DO TEMPO QUE PASSOU Quem se lembra do velho Teatro Garrett que durante várias décadas desde 1890 até 1938, foi senão a única pelo menos a principal casa de espectáculos poveira ? E ao dizermos senão a única, estamos a lembrar-nos de uma outra que existiu na rua Santos Minho, entre a casa do Dr. Abílio de Carvalho e o quartel dos Bombeiros Voluntários, e que segundo a minha já um pouco débil memória, tinha, parece-me, por nome SALÃO TEATRO. Nunca lá entrei. Lembro que, pelo menos na década de 20 do século passado serviu durante anos para alojamento nocturno dos recrutas da então Companhia de Administração Militar, sediada na rua Rocha Peixoto, no antigo colégio das Doroteias, que deve ter passado para a posse do Estado aquando em Abril de 1911, foram expulsas das suas instalações, pelo decreto da nacionalização dos bens da Igreja e bem assim passaram a não poderem leccionar casas que não fossem dirigidas e possuídas por nacionais. Voltando ao Salão Teatro, do seu inicio nada devia ter restado, pois, principiando por servir para reforço de instalações militares, abandonado mais tarde, passou a ser ocupado para outras actividades e até já, talvez, no último quartel do século vinte serviu, creio, para uma fábrica de camisas. Logo o Garrett foi durante muito tempo a única casa de espectáculos da Póvoa. Pertencendo à família do Dr. David Alves, o Teatro Garrett, foi inicialmente, como não podia deixar de ser, destinado a espectáculos teatrais, concertos de música, orfeão e variedades. A configuração da sala tinha, para o fim destinado, uma disposição muito diferente das salas de hoje. Assim os lugares mais próximos da boca de cena, isto é do palco, era o lugar, agora assim diz, da primeira plateia ( nos espectáculos teatrais são os melhores) e que ocupava metade da sala; a seguir, em bancos corridos e com costas, estava o chamado SUPERIOR, mais ou menos um lugar intermediário entre a GERAL ou galerias ; estas situavam-se ao fundo da sala ( dois espaços, um de cada lado da entrada principal ) e outros dois, um á esquerda e outro à direita, mas com entrada comum para cada um dos flancos. (Em aparte e porque vem a “talhe de foice”, dizia a pequena grande actriz Adelina Abranches, quando resolveram, nas salas modernas, afastar do palco a geral, colocando-a muito longe e nos lugares cimeiros da sala, o teatro e os artistas perderam na jogada, pois a alma dos espectáculos era o publico menos exigente,pois era ele que mais se aproximava dos elencos e mais vibrava com as representações) Quanto a lugares, podemos dizer familiares, havia uma ordem de camarotes que corria à volta de toda a sala, formando o único piso superior. Ao lado da primeira plateia, duas frisas chamadas de boca, por estarem colocadas junto “á boca de cena” e mais duas ou três a seguir. A decoração pintada de toda a sala, incluindo o pano de boca, com influência no azul de um neo-barroco, era devida ao artista poveiro Lino da Costa Nilo. ( 1 ) Por aquele velho palco, passaram os mais consagrados artistas do teatro nacional, como Chaby Pinheiro, Maria Matos, Auzenda de Oliveira, Santos Carvalho, Eduardo Brazão, Erico Braga, Silvestre Alecrim, a já citada pequena grande actriz Adelina Abranches, Palmira Bastos, Alves da Cunha, Vasco Santana, António Silva, Amélia Rey Colaço e outros e muito mais outros que, apesar do seu valor real. seria enfadonho citar. Perguntar-me-ão, porque que é que se juntaram tantos artistas nesta terra ? E a resposta é simples. Como sabemos na época de verão os frequentadores de espectáculos, nos principais centros do país diminuem. Uns vão para férias nas suas terras, outros procuram termas e praias, sempre assim foi e é. Ora a Póvoa no verão desde sempre foi um lugar escolhido, principalmente pelos minhotos e terras altas de Trás-os-Montes, logo um lugar onde as companhias teatrais se podiam ressarcir dos prejuízos que tinham de suportar nessa época. O remédio era lançar-se Pais fora em “tournée” e na Póvoa encontravam condições especiais. Tinham um teatro, e acomodações para fazerem desta terra de lazer, o seu quartel general de onde podiam irradiar, com a sua arte, por termas e outros locais de veraneio nortenhos. E assim a Póvoa passou a ser um lugar preferido e a empresa do Garrett aproveitava. Não podemos dizer que era uma excelente sala de espectáculos mas, para a época, era sofrível. O átrio de entrada era espaçoso, tinha aos lados um corredor onde os espectadores nos intervalos podiam no aquecer os pés, dando umas voltas, já que nessa estação do ano, o frio ali, numa casa onde as paredes laterais, a pedra era só no rés do chão e o piso superior era de madeira. Forrada exteriormente por chapa zincada, segundo me parece. Os sanitários estavam situados ao fundo do corredor direito onde também se entrava para o palco, onde a madeira imperava nos camarins, piso com os alçapões usados principalmente nos espectáculos de variedades e por onde desapareciam ou apareciam os comparsas, e lá no alto estava o sistema de subida e descida dos cenários, a teia. A protecção lateral de todo o palco, era madeira e zinco, como na em parte da sala. Aqui se representaram muitos do originais do Dr. Zé Sá, como julgo uma que deu brado, “Quentes e boas” e “Maria”, aquela cuja receita de bilheteira serviu para em benefício do Naval, ajudar na compra de dois escaleres e dois barquitos à vela que nós chamávamos andorinhas. Tanto nos escaleres como nas andorinhas, fartei-me de fazer parte da tripulação, Nas andorinhas, o meu companheiro era o falecido Zé Neves e nos escaleres, entre o Cândido Pinheiro, podíamos encontrar, entre os cinco elementos, o meu bom amigo Tone Dias ( o até à pouco falecido Padre Olimpo Dias, S.J.). O meu lugar era o de sota-proa. Mas é sobre o Garrett que estamos a falar e não a divagar sobre outros assuntos que nada tem a ver com a sala, apesar nas traseiras do palco ter apodrecido um escaler, o Tritão, propriedade, entre outros do meu primo Dr. José Campos Costa e do farmacêutico Dr. Fausto Cardoso, proprietário da Farmácia da Praia. Não sei como processava a iluminação do velho teatro mas sei bem que neste recinto encostado as traseiras do palco havia um barracão onde se encontrava em pleno funcionamento um gerador de energia eléctrica de corrente contínua, que funcionava a óleo ou petróleo e que, nos meus tempos de meninice, nos últimos anos de vinte do século passado e que alimentava já a máquina o arco voltaico. Para quem não saiba esclareço que no arco voltaico, a fonte luz para a projecção de filmes, só funciona com a fonte de energia contínua e de baixa intensidade, e não a que hoje temos em nossas casas que é alterna, normalmente de 220 volts. É natural quando a Póvoa passou a utilizar a energia alterna, toda a instalação eléctrica do velho teatro, tivesse sido adoptada à nove fonte. Mas quanto ao gerador instalado no barracão, por vezes ele fazia a sua partidinha e, embirrando não funcionava, o que dava dores de cabeça ao projeccionista Calheiros e ou a sessão principiava mais tarde ou até nem havia. Havia neste recinto, um portão de servidão do palco, por um corredor bastante largo, até à Avenida Mousinho. Confrontava com o lado nascente da Garagem Rios, servidão que também utilizava. Vem isto a propósito da lembrança do prezado colaborado do Comercio, senhor Manuel Figueiredo, pedindo uma servidão para a entrada do material cénico. Ora servidão existiu. O destino, se ela desapareceu, para mim é uma incógnita. E por hoje já chega de MEMÓRIAS DO TEMPO QUE PASSOU. Fica para a próxima, o resto que falta. ( 1 ) – Este artista era o pai do reverendo Américo Nilo. O seu nome era o de Lino da Costa Fajardo, mas como não gostava que lhe chamassem Fajardo, substituiu pelo anagrama Nilo. Braga, 2005-06-04 Luís Costa Email: luisdiasdacosta@clix.pt
publicado por Varziano às 17:42

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