MARAVILHAS POVEIRAS
A S T R I C A N A S
Nestes dias de verão, que nos convida a gozar as férias, procurando a fresca à sombra das telhas caseiras, já que as fabulosas pensões sociais dos “jubilados”, como nos chamam os nossos amigos galegos, porque para eles o termo de reformados não lhes soa bem, mas sim como de uma coisa já gasta, que se arruma para o canto como inútil, imprestáveis, um dos meus entretenimentos, além da “maravilha” do século vinte, o computador que faz cansar e extenuar o cérebro, é passar uma vista de olhos pela colecção de postais, alguns dos quais me fazem sonhar com paradisíacos locais, temperadas águas, sombras de coqueiros, fresca das alturas, nortadas inclementes e belos corpos torrando ao Sol na trabalheira, como costuma dizer-se, para o “bronze”.
De entre essa caterva de postais que ao longo da minha acumulação de dilatados anos tenho reunido, surgem alguns que me fazem lembrar os meus anos de juventude e mocidade passados na Rainha das Praias Portuguesas, classificação que me não canso de atribuir e lançar aos quatro ventos à já velhinha, Varazim de Jusão, ou se quiserem Poboa Noua de Varazim ou ainda como no foral do Rei Dom Diniz, Reguengo de Varazim de Jusaão.
A Póvoa, hoje uma nova cidade, cosmopolita e movimentada, onde, por vezes, é difícil distinguir os meses calmosos, de canícula ou, por mal dos nossos pecados, de Nortada, com os dias de Inverno, quando o mar brama ameaçador, tentando ultrapassar as barreiras naturais, mas mesmo assim espectáculo formidável da fúria dos elementos, é hoje cidade onde a onde a mistura de gentes dos vários quadrantes da Rosa dos Ventos é notória, desde os confins de Portugal, e agora de emigrantes, de primeira e segunda geração e até de estrangeiros, tendo, a par com condições de boa hospitalidade, a sua esmerada cozinha, um dos mais belos encantos que bem representa esta terra de heróicos pescadores, a bela tricana poveira.
Pela sua gentileza, pelo seu porte donairoso, pelo amável sorriso, pela sua graciosa compostura a tricana poveira distingue-se entre todas as moças deste ridente “País à beira mar plantado”. Não sei se é do clima, se é própria das gentes poveiras, já que a fama de raparigas bonitas se estende pelo concelho. Beiriz, é considerada como uma das freguesias da Póvoa, onde se encontram as mais belas moças, competindo em formosura e deleite com as poveiras.
Mas a tricana poveira, com o seu trajar peculiar, o xaile de merino, traçado sobre os ombros, a sua saia de fina cambraia, o seu avental e blusa de seda, profusamente coloridos, as suas meias de seda, que escondem uma perna bem esculturada, rematada por um chinelo de verniz, que encerra um elegante e pequeno pé, o seu cabelo bem penteado e enrolado num picho, aninhado sobre o pescoço, as suas arrecadas, por vezes brincos de rainha, um fio de ouro ao pescoço, normalmente enriquecido por uma medalha, encastoada pelo precioso metal e encerrando um esmalte representando a imagem da Mãe de Jesus e nossa Mãe – sua devoção peculiar - o seu andar num saltitar brincalhão, o seu olhar de encanto por vezes maroto que mais não é do que setas atractivas enviadas, que apaixonam o mais empedernido e sisudo solteirão. Elas são uma verdadeira maravilha, e agora que está em moda a eleição das maravilhas, posso dizer que a tricana poveira é uma das maiores, senão a maior maravilha que nos deu a mãe natureza. E a vê-las nas marchas de São Pedro, nas festas e romarias, no São Bento de Vairão, na Senhora da Saúde, em Laúndos, nas festas de Nossa Senhora da Assunção ou nas de Nossa Senhora das Dores.
Sempre dignas, dão um ar festivo a estas manifestações. E eu, felicito as que foram tricanas do meu tempo - há que belas recordações, os bailaricos do Sidral e as fogueiras, e a tasca do Barroso que servia, para refrescar as gargantas ressequidas pelo cantar da “Sarrasquinha ‘assacode’ a saia” - , as de hoje e aquelas que no futuro virão, para continuar a dar a esta terra de encanto a fama e a chama, que o mar às vezes ingrato mas sempre generoso beija, com carinho, quando o procuram para descanso e bem estar.
Não ponho dúvidas, se houvesse uma eleição não só para coisas estáticas, mas com plena vida que o honroso lugar da melhor maravilha de Portugal e do Mundo inteiro seria
A TRICANA POVEIRA
Obs. Talvez pelo meu fraco conhecimento os tecidos
usados pela tricanas sejam outros.
Braga, 30 de Julho de 2007
LUIS COSTA
Se for possível peço me devolvam o postal.