V E S T I M E N T E I R O S
As Procissões no Minho, ou melhor em todo o Norte de Portugal tem uma característica muito especial e que, quanto o saibamos, é única no País. Essa notável usança das procissões, especialmente minhotas, e neste nosso caso as que em Braga se realizam, tem a enriquece-las um figurado relacionado com o tema da procissão, que as torna deslumbrantes. Trata-se da riqueza com que se adornam os anjinhos, como vulgarmente se denominam as crianças que intervém nos quadros vivos figurativos e alusivos aos passos que se desenrolam no cortejo religioso. Em tempos não muito recuados, as vestimentas desses anjinhos eram tecidos nobres - seda, veludo, fitilhas e véus (entre 1762 e 1874, detectamos mais de vinte e seis fábricas de sedas, só no aro da cidade).Essas fábricas forneciam não só as necessidades dos paramentos que os ofícios divinos exigiam mas também forneciam os Vestimenteiros, comerciantes que dedicavam a sua profissão a vestir os anjos para as procissões. E não se admirem se dissermos que essa profissão eram rendosa e de bom lucro quando pensarmos que só a cargo do Senado da Câmara se faziam cerca de sessenta procissões anuais !
Razão tinham os Arcebispos quando fomentavam a plantação da amoreiras, principal e único alimento do bicho-da-seda, e as fábricas que, por si, davam que fazer a inúmeros serigueiros ou sirgueiros, artesãos que se dedicavam a tecer a seda.
Com aparecimento do nyllon , praticamente desapareceu no figurado a nobre seda e veludo, agora substituído pelos novos tecidos. No entanto, à primeira vista, nada se perdeu e até certo ponto se ficou a ganhar com a introdução do novo produto. Com efeito se se perdeu, até certo ponto, o luxo dos tecidos nobres, em compensação o nyllon com a diversidade de cores e maior consistência deu um maior deslumbramento a todo o figurado. Os véus esvoaçantes, as roupagens brilhantes e com dobras fixas, onduladas como pelo vento, dá-nos a impressão de anjinhos ressuscitados do século XVIII, que trouxeram até nós, de novo, todo o esplendor do barroco.
Braga, 22 de Dezembro de 1994
LUÍS COSTA