CONSELHO DE MÉDICO
Um grupo de miúdos e miúdas, devidamente acompanhados pelos monitores, deslocam-se numa tarde de verão até à aldeia, para desfrutar o ar sadio, entre pinheirais, campos de milho e a fresca de um regato de boas águas, local ideal para um bom e revigorante mergulho em horas de convívio com a natureza, fugindo assim do dia a dia da cidade, de ares empestados e do nojento cheiro dos combustíveis dos modernos transportes públicos e particulares.
A pé como manda o bom exercício, os três escassos quilómetros são percorridos por entre gargalhadas e boa disposição. Armado o acampamento, depois de corridas e saltos como “coelhos” que quase que o são, o repouso preciso e todos se lançam ao descanso à sombra das frondosas arvores, coisa que os citadinos, por artes do modernismo, não podem desfrutar na cidade, tão parca destes espaços.
Suados e cansados, pelo esforço das brincadeiras, a fome apertando, o merendeiro é a salvação para os estômagos que às voltas, está já a dar sinais. Mas a sede também aperta, e o rio tão perto, com a sua água fresquinha é uma tentação.
Mãos em “borco”, em concha como os primitivos usaram a sua primeira vasilha, sorve, a menina que dá origem a esta receita, fartos goles de água. Dias depois uma febre tifóide atira-a para a cama. Altas temperaturas fazem com os pais receosos da gravidade, chamem o médico. Nesse tempo, ainda era fácil e costume os facultativos deslocarem-se às casas dos doentes.
E entre o médico e a doentinha estabelece-se o diálogo :
- Então, minha menina o que te dói ? É a barriga ? Bebeste água do rio ?
- Bebi, senhor doutor !
- É preciso muito cuidado, água só de confiança. Agora o resultado foi ficares doente. Vou contar-te uma consulta que dei há dias a um pescador. Apareceu-me agarrado a uma enorme barriga e eu, depois de o examinar, disse-lhe prontamente :
- Ó homem, você o que tem é água na barriga !
- “N´á, eu cá Se doutor, auga, só p’ra lavar os peses! Só se for do caurgo?” !…