A S C É D U L A S
DINHEIRO QUE CORRIA
SUPRINDO A FALTA DE COBRE
Nos anos subsequentes à primeira Grande Guerra, com esforço de guerra, a utilização dos metais tinha sido desviada para a produção de armas e munições, e, por conseguinte, o cobre então como sempre utilizado nas moedas, nesse tempo de menor valor, tinha desaparecido do mercado. Destinado a maiores valores, sempre ou quase sempre com a cobertura pelo Banco Emissor (estou a recordar-me do célebre caso do Angola e Metrópole, com Alves Reis a aproveitar-se do facto de que nem sempre assim sucedia), de determinada reserva em Ouro, era o papel moeda que corria.
Essa nova moeda, que veio substituir a então em uso moeda de cobre, prata e ouro, não entrou, facilmente nos hábitos da população e até foi necessária a publicação de uma ordenação para que o pagamento aos funcionalismo se fizesse, obrigatoriamente, em estipuladas partes de moeda metálica e outra no moderno papel moeda.
A moeda de metal, tinha os seus inconvenientes, o principal dos quais seria certamente, quanto a elevadas quantias. O seu transporte e arrecadação representavam um extraordinário peso. Já viram o que seria, já nos nossos tempos, carregar com mil escudos em moedas de dez tostões ( um escudo ) ? ou agora mil euros em moedas de dois ?
Assim podemos dizer que a introdução do papel moeda, sem menosprezar o velho cobre e outras ligas que continuam a circular para quantias menores, foi uma grande novidade que veio facilitar a vida, e até mais uma grande vantagem para os falsários. Torna-se mais fácil fazer falsa moeda papel do que em metal.
A razão, talvez, a não substituição da moeda metálica, de baixo, ou melhor, de mais baixo valor, por papel, deve estar no seu uso, o papel é facilmente deteriorado e as quantias menores tem mais uso. Todos usamos cêntimos para comprar pão e se não tivermos moeda mais a jeito, o troco virá sempre em moedas metálicas,
Ainda me lembro bem das notas de dois escudos e cinquenta centavos, das de cinco escudos e das dez escudos. Mas nesse tempo, talvez há setenta/oitenta anos, cinco coroas (2$50) era dinheiro, para muita gente essa quantia representava um dia de trabalho e portanto o que mais circulava nos bolsos, eram os centavos, um ou dois, os meios tostões (5 centavos), os tostões (10 centavos), a coroa ($50 centavos) e as duas coroas (1$00), dado que um quilo de broa, por exemplo, às vezes nem chegava a duas coroas e um pão de trigo, andava por 2 tostões. As moedas de 2$50, 5$00, 10$00, e 20$00, foi uma novidade que apareceu com o Estado Novo, moedas que foram a princípio em prata, mas que depressa passaram para níquel, certamente por RAZÃO DE ESTADO!!!.
Mas vamos à razão do título desta croniqueta. Com a falta de cobre, as pessoas viam-se e desejavam-se com os pagamentos e, quanto a trocos, o problema acentuava-se. Por mais voltas que se dessem tanto os clientes como os vendedores encontravam-se num beco sem saída. Mas o problema tinha de resolver-se. Só o Estado tinha poderes para isso. Lançou então um decreto que autorizava as Câmaras Municipais a emitirem cédulas, de pouco valor, que circulando livremente, supririam dessa maneira a falta de moedas de cobre.
Pelas cédulas que ilustram êste “artiguelho” ficamos a saber que a Câmara da Póvoa, como a de outras localidades, como Braga, se serviram deste disposição governamental para a resolução dos problemas que a guerra tinha causado, na circulação de pequeno dinheiro.
Segundo me disseram, muitos dos tempos de folga, eram utilizados pelos marçanos a colar as pequenas notas que pelo uso estavam rasgadas. Ainda sou do tempo em que elas circulavam. Lembro-me, vagamente, do meu pai que estava a atender ou um amigo e cliente, no seu escritório de advogado, na rua de São Bento da Victória, no Porto, perto do Tribunal de São João Novo, me dar uma dessas cédulas para comprar um carramilo ( pau de açúcar ), no Largo das Taipas, ( nesse tempo nas rua, automóvel, nem vê-lo ), maneira de o deixar sossegado no seu trabalho.
A moda pegou e então das Câmaras passou para o comércio. Várias lojistas aproveitaram o ensejo e vai de fabricar cédulas, quase a esmo. Seria isto uma inspiração para as notas de quinhentos do Angola e Metrópole ?
No Arquivo do falecido amigo Dr. Manuel Braga da Cruz, cheguei a ver uma boa colecção de cédulas e de entre elas umas mandadas imprimir pelo Café Viana, de Braga, e para surpresa minha, estava assinada por um dos concessionários, meu familiar, o meu tio Zé Costa ( José Luís da Costa).
Eis, uma história verídica que para muitos será, talvez, uma novidade.
Braga, 5 de Agosto de 2007
LUÍS COSTA
www. bragamonumental.blogs.sapo.pt
Email: luisdiasdacosta@clix.pt
Email: luisdiascosta@sapo.pt
Anexo: uma cédula de 2 centavos, da Câmara Poveira
Uma fotocópia de uma cédula da Câmara de Braga,
Uma reprodução da nota de quinhentos (não sei de é de
se publicar, pois é aproveitada do “Público”)
Agradeço me sejam devolvidas.
Cumprimentos